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Os demónios voltaram a atacar e mais uma vez tentam dominar o mundo, mas felizmente nem tudo está perdido! O nosso ‘Doom Slayer’ está de regresso, ao serviço da Union Aerospace Corporation (UAC), para fazer chover chumbo sobre estas criaturas do mal e salvar todo o planeta. Doom Eternal é tudo isto, e um pouco mais, não fosse esta uma saga que é um autêntico ícone no género First Person Shooter (FPS). Para os jogadores mais experientes, a saga Doom escusa qualquer tipo apresentação. Para os outros, deixamos aqui uma pincelada de todo o legado de uma série que faz história há mais de 25 anos.

Focada nas aventuras de um Space Marine sem nome, a saga estreou-se no mundo dos videojogos em 1993, com o lançamento do primeiro título para o MS-DOS. Desde então, a franquia já vendeu milhões de cópias em todo o mundo, com as dezenas de edições e sequelas ao longo dos anos, passando também por várias editoras e produtoras diferentes. Desta vez, desenvolvido pela id Software e publicado pela Bethesda Softworks, Doom Eternal serve também como sequela direta para o reboot (Doom) de 2016. Depois de tanto historial, será que este Doom Eternal cumpre com aquilo que promete no nome – ‘Eterno’? Vestimos a nossa armadura e fomos diretamente para o campo de batalha para descobrir esta aventura vinda do inferno.

DOOM Eternal

Doom Eternal

Como a fórmula de Doom já é mais do que conhecida, com muita ação em estilo de arena, alguma exploração e muita (mas mesmo muita) violência e força bruta, podíamos pensar que já não existia nada para melhorar além dos visuais. De facto, estávamos enganados! Podemos já dizer que a id Software conseguiu agarrar numa receita já conhecida e transformá-la numa experiência que parece totalmente nova. Isto não quer dizer que Doom Eternal foge às origens da saga, ou que milagrosamente agrada a todo o tipo de jogadores. Longe disso! Este é um jogo que pode não agradar a todos, e não estamos apenas a falar de uma faixa etária mais juvenil. A grande violência e velocidade de Doom, e principalmente a sua dificuldade, poderão afastar também os jogadores mais casuais.

Embora reinventado, a essência de shooter ainda lá está, e o gore também. Com visuais totalmente renovados, e uma mecânica de tiro mais rápida e fluída do que nunca, Doom Eternal pareceu-nos imediatamente um dos melhores FPS que jogámos nos últimos anos, provavelmente até o melhor desde o velhinho e saudoso Quake III Arena.

Velocidade Infernal

A velocidade é mesmo um dos maiores destaques deste novo Doom, e um fator diferenciador da concorrência. Os inimigos são muitos, e temos de ser inventivos se queremos sobreviver mais do que alguns segundos. Tiros precisos e movimentos rápidos são a chave.
O nosso herói também não se limita a eliminar as repetidas vagas de demónios. Nesta arena de horrores, o nosso ‘doomguy’ despedaça, destrói e explode com as criaturas do mal, da forma mais visceral e grotesca possível. Para isso, temos à nossa disposição um autêntico arsenal de guerra, que, nesta edição, também inclui um lança-chamas montado no ombro. Combinado com a motosserra e restantes armas, somos capazes de chacinas impressionantes.

Quando derrotamos inimigos, estes podem largar dois tipos de orbs no chão, que são muito importantes para o nosso herói. A primeira gera energia vital, demasiado importante para ser ignorada. Por outro lado, as brutais matanças de serra fazem cair orbs de munição, que sem elas seria impossível sobreviver. Além disso, o novo lança-chamas não causa apenas dano aos inimigos, também permite que os demónios em chamas gerem armaduras quando são derrotados.

Este mecanismo também torna as batalhas extremamente táticas, principalmente em níveis de dificuldade superiores. Como a munição é projetada pelas dez armas quase tão rapidamente quanto a podemos colecionar, e algumas armas partilham o mesmo tipo de munição, somos forçados a procurar balas quase constantemente. Já a vida é um recurso que, digamos, fundamental para permanecermos… vivos! Será, por isso, indispensável recolher o máximo possível destas orbs, e de forma constante ao longo da partida. Por fim, as armaduras são, obviamente, fundamentais para não cairmos ao primeiro tiro. É esta mecânica de ações que torna Doom Eternal muito sugestivo e que foge ao comum dos FPS onde basta apenas comprar munição e disparar. Se soubermos usar bem estas ações em conjunto, os demónios serão dizimados em massa, para grande regozijo do caçador atrás do comando!

Este sistema, combinado com o salto duplo e o novo desvio duplo, cria uma sensação de combate incrivelmente rápida e fluída, onde o tiro de longo alcance alterna perfeitamente com o brutal combate corpo a corpo. Escondermos-nos também não é uma boa opção em Doom Eternal. Aqui, os campers que se cuidem! Se nos faltar vida ou munição, apenas existe um caminho a seguir… ir em frente, e enfrentar mais uma dezena de inimigos sedentos do nosso sangue.

Como em qualquer FPS que se preze, o posicionamento no mapa é muito importante para termos sucesso. Como o nosso herói é incrivelmente ágil, e os inimigos são muitos e variados, temos de ser inteligentes na forma como os abordamos. Manter posições elevadas, e trocar de zona constantemente, pode resultar no massacre completo do inimigo, mas apenas se for acompanhado de um gatilho rápido e de uma boa pontaria. Toda a frenética experiência é ainda aumentada por uma explosiva banda sonora de guitarra elétrica que nos parece totalmente apropriada para esta visita ao inferno.

Arsenal de Guerra

Doom Eternal ainda esconde mais algumas surpresas. A acrescentar ao nosso arsenal, temos à disposição várias granadas, que incluem opções explosivas e de gelo, que paralisam temporariamente os inimigos. Sim, granadas de gelo! Que pouco realista, quando andam demónios à solta! Além disso, certos demónios, como Mancubus, Revenant ou Arachnotron (um cérebro com pernas de aranha), apresentam pontos fracos especiais, que podem ser destruídos com tiros direcionados de forma a diminuir a sua capacidade de ataque.

Para complicar ainda mais a jogabilidade, cada arma não tem apenas um, mas sim dois modos de disparo, que podem ser ativados através de caixas de melhoria, e acionados com o pressionar de um botão. As armas também variam no dano aplicado, e são mais eficazes em certo tipo de inimigos do que em outros. Esta adaptação constante também é muito importante para termos sucesso.

Como já referimos, a movimentação é a chave para controlar as enormes vagas de inimigos. Como as arenas oferecem agora uma ação mais vertical, é importante nunca ficarmos no mesmo sitio. Em caso de necessidade, podemos fugir rapidamente graças aos novos movimentos e ao facto de podermos saltar entre as plataformas altas que decoram os mapas. Uma adição muito bem-vinda, que melhora a experiência de jogo e atribui valor ao conhecimento do mapa, premiando quem se dedica mais ao jogo.

Muitos dos elementos podem ser usados para manobrar os demónios e atacá-los a partir de cima, de trás ou de lado. Particularmente interessantes são as várias runas que melhoram o movimento no ar ou diminuem a velocidade quando o botão de disparo alternativo é pressionado, o que leva a espetaculares manobras em câmera lenta. Num ponto de vista geral, as arenas são exigentes, mas justas na maioria dos casos.

Novos Cenários

Um dos pontos fracos do seu antecessor, Doom (2016), era o facto do desenho dos mapas ser muito pouco variado. Felizmente, a id Software soube aprender com os erros do passado e melhorar nesta nova entrega. Doom Eternal começa numa terra destruída e vai avançando por vários tipos de elementos que incluem quase todos os ambientes que podemos imaginar, como cenários gelados, luas de Marte, e até santuários imponentes.

Todos os locais foram bem projetados, e apresentam visuais impressionantes. Podíamos esperar ambientes mais escuros, afinal Doom é uma aventura infernal, e este é também um truque recorrente para esconder alguns detalhes menos conseguidos visualmente, mas isso aqui não acontece. Em algumas partes, Doom Eternal é até muito colorido, mas de uma forma horripilante que encaixa perfeitamente no ambiente do jogo. A produtora não teve receio em abusar no grafismo, apoiado pelo excelente motor proprietário idTech7, e a arquitetura do jogo claramente acompanha essa ambição.

A Fortaleza Doom, uma estação espacial em órbita terrestre, que serve como o centro do mundo, também foi bem projetada e, além de armazenar os segredos desbloqueados, também oferece espaço suficiente para a exploração. As melhorias de armas e armadura podem ser desbloqueadas aqui, e também há skins, incluindo algumas clássicas.

Gore Histórico

Não podíamos falar de Doom sem referir a violência e a brutalidade com que eliminamos os inimigos. Claro que não são representações humanas, mas a forma exagerada com que os trucidamos continua a ser um dos destaques da série. Tudo o que foi sangrento no seu antecessor é agora ainda mais brutal, e as animações foram ajustadas claramente nesse sentido.

Os demónios são decapitados, cortados em pedaços e rebentados com granadas, mas sempre com um estilo próprio, e até algum sentido de humor à mistura. Podíamos simplesmente disparar sobre eles até caírem, mas qual seria a piada disso? Doom Eternal não é um simulador, e explora totalmente o seu lado mais arcade, no bom sentido da palavra, em todos os seus momentos mais marcantes.

A história, que é algo extensa e assume algum conhecimento prévio da série, acompanha bem o estilo da jogabilidade. O plot base, que ocupa cerca de 20 horas de jogo, também ajuda a preencher alguns buracos da série, e explica em detalhe a motivação das várias fações. Existem algumas cutscenes, mas o jogador não é obrigado a assisti-las para poder jogar e, além disso, foram ainda incluídos alguns momentos divertidos pelo meio.

No total existem quatro níveis de dificuldade, mais uma variante Ultra-Nightmare, que termina após a nossa primeira morte – nada mais realista! Embora sejam poucas as opções, não se deixem enganar! Doom Eternal não é para jogadores de coração fraco, e se o segundo nível mais alto de dificuldade (Ultra-Violence) já é difícil, o modo Nightmare só deve ser enfrentado por jogadores que dominam o jogo. Ultrapassar o jogo num destes modos acaba por ser um desafio muito interessante, e um motivo de orgulho para quem for bem-sucedido. Obviamente não é nenhuma tarefa impossível, mas certamente requer algum suor.

Experiências Extra

Se as quase 20 horas de jogo em campanha não parecerem suficientes, Doom Eternal ainda oferece alguns modos extra. Destacamos os remixes dos níveis principais que, depois de terminados, podem ser repetidos de uma forma ainda mais exigente, e todos os colecionáveis que podemos utilizar na Fortaleza Doom fazem aumentar ainda mais a longevidade.

Muito interessante é o novo modo Battlemode, que oferece uma experiência multijogador assimétrica, onde dois jogadores reais personificam demónios e devem derrotar um jogador que fará o papel de Slayer. Embora o caçador não possa utilizar todas as habilidades do modo campanha, é ligeiramente ‘overpowered’ comparativamente com os demónios que o perseguem. Uma boa cooperação entre o par é fundamental para equilibrar o desafio.

Este modo 2v1 revela as potencialidades do motor de jogo idTech7 enquanto formato multijogador, e deixa alguma água na boca para um eventual novo Quake, onde a jogabilidade rápida e a existência de plataformas que melhoram o movimento sempre fizeram parte do seu ADN. No que depender de nós, a Bethesda pode começar já a trabalhar!

Veredito

Rápido, violento, graficamente exigente e geralmente preciso, Doom Eternal é um renovado regresso às origens da série. Com uma nova e viciante jogabilidade, apoiada pela verticalidade das arenas e a variedade de armas e inimigos, a id Software soube aproveitar o que definia a saga e rescrever a formula.

Com um grande foco na velocidade e posicionamento, este novo Doom coloca-nos em constante pressão, principalmente nos dois níveis de dificuldade mais exigentes. A banda sonora de estilo metal ajuda a complementar esta mistura de FPS gore com um rápido jogo de plataformas. Além disso, obriga-nos constantemente a alternar entre a curta e a longa distância, de forma a recolher as importantes orbs, e ao mesmo tempo controlar as enormes vagas de inimigos.

A campanha a solo é um dos pontos fortes de Doom Eternal, que além de ajudar a contar a história da saga, enriquece a jogabilidade com os seus cenários vívidos e a ausência de plots demasiado complicados. Embora não ofereça um modo multijogador completo, o Battlemode ajuda para partilhar um pouco da sensação com amigos ou desconhecidos na Internet e, graças aos colecionáveis e remixes, a longevidade é satisfatória.

Este é um jogo para o PC. Embora seja possível jogar nas consolas, um verdadeiro fã de FPS não pode dispensar o teclado e o rato. Embora esta análise tenha sido escrita com base numa versão de DOOM Eternal para a PlayStation 4, não podíamos deixar de referir este facto.

Doom Eternal é provavelmente o melhor FPS puro dos últimos anos, e um importante marco para a saga e todo o seu género. Com o peso de um legado tão poderoso, a id Software e a Bethesda Softworks mostraram à indústria que ‘velhos são os trapos’ e fizeram regressar do passado um verdadeiro ‘Slayer’ que há muito estava adormecido. Toda a emoção e jogabilidade tornam Doom Eternal num shooter verdadeiramente a não perder.