Em outubro de 2021, Mark Zuckerberg apresentou ao mundo a sua visão para o futuro das interações sociais: o metaverso. Na altura, afirmou que esta tecnologia seria o sucessor da Internet móvel, permitindo que te sentisses presente com outras pessoas, independentemente da distância. A convicção era tal que decidiu mudar o nome da empresa de Facebook para Meta.
Quase quatro anos depois, o entusiasmo inicial deu lugar à desilusão. A promessa de um universo digital partilhado parece ter ficado pelo caminho, sem cumprir o potencial anunciado.
O que é, afinal, o metaverso?
O conceito refere-se a uma rede de espaços virtuais onde podes interagir socialmente através de um avatar – uma representação digital tua. A ideia era criar ambientes imersivos para trabalhar, socializar ou divertir-te, como se estivesses fisicamente presente.
Para concretizar essa visão, a Meta investiu mais de 80 mil milhões de dólares em tecnologias de realidade virtual (VR) e aumentada (AR). Só em 2024, a divisão Reality Labs recebeu 19,9 mil milhões de dólares, mas registou perdas operacionais de 17,7 mil milhões. Desde 2020, as perdas acumuladas ultrapassam os 60 mil milhões, levantando dúvidas sobre a sustentabilidade do projeto.
Horizon Worlds: uma aposta que não vingou
Em 2022, a Meta lançou Horizon Worlds, uma plataforma de metaverso acessível via headset VR. Inicialmente, atraiu cerca de 300 mil utilizadores, mas o interesse foi diminuindo com o tempo. A falta de conteúdo envolvente e experiências imersivas contribuiu para o afastamento dos utilizadores.
No início de 2025, Andrew Bosworth, CTO da Meta, reconheceu internamente a necessidade de melhorar vendas, retenção e interação. Sublinhou que o sucesso da plataforma em dispositivos móveis será determinante para o futuro da empresa:
“Este ano provavelmente determinará se todo este esforço será lembrado como visionário ou como um fracasso lendário.”
Barreiras tecnológicas e concorrência inesperada
Segundo a IDC, prevê-se uma queda de 12% nos envios globais de dispositivos AR/VR em 2025. O elevado custo, o desconforto físico e a ausência de um hardware apelativo para o público em geral dificultam a adoção em massa. Sem uma base tecnológica sólida, o metaverso não consegue sustentar a visão de um mundo digital habitado.
Ao mesmo tempo, a inteligência artificial ganhou protagonismo. Desde o lançamento do ChatGPT em 2022, a IA passou a integrar-se rapidamente em produtos e serviços, com aplicações práticas em educação, saúde, entretenimento e produtividade. O foco da inovação deslocou-se, deixando o metaverso em segundo plano.
Falta de conteúdo e oportunidades perdidas
A escassez de experiências relevantes e interativas nas plataformas existentes impediu a criação de um ecossistema vibrante. Muitos espaços virtuais permanecem vazios ou pouco estimulantes, sem competir com outras formas de entretenimento digital já consolidadas.
Um dos setores que poderia ter revitalizado o metaverso seria o dos jogos de casino ou feiras, convenções e apresentações. Através de avatares e ambientes digitais, seria possível replicar a experiência social de um espaço físico, enriquecida com elementos visuais e mecânicas interativas. Torneios, eventos exclusivos e recompensas digitais poderiam ter criado comunidades ativas e fidelizadas. No entanto, essa convergência não se concretizou.
Entre ficção e realidade
A ideia de um mundo virtual onde trabalhas, socializas e consomes entretenimento foi popularizada em 2018 com o filme Ready Player One. Mas, ao contrário da ficção, a realidade mostrou que o metaverso chegou cedo demais – ou talvez nunca tenha estado verdadeiramente preparado para cumprir o que prometeu.





