Gaming e ambiente
Gaming e ambiente. © Greenly

O universo dos videojogos evoluiu rapidamente nas últimas décadas. De clássicos como Tetris ou Mario Kart até títulos como Call of Duty, o setor passou dos salões de arcade para as consolas domésticas, e mais recentemente para os smartphones. Esta expansão trouxe consigo um impacto ambiental crescente, que começa agora a ser analisado com maior detalhe.

A Greenly, empresa especializada em contabilidade de carbono, avaliou as emissões associadas ao gaming em diferentes plataformas – consolas, computadores, dispositivos móveis e streaming – e propôs medidas para reduzir a pegada ecológica do setor.

Consolas e computadores: emissões na produção e utilização

Apesar do crescimento do gaming móvel e em nuvem, as consolas continuam a registar forte adesão. Em 2023, o mercado cresceu 10%, o que implica mais emissões na produção e transporte dos equipamentos. A Universidade de Cambridge estima que a produção e distribuição da PS4 gerou cerca de 8,9 milhões de toneladas de CO₂ equivalente entre 2013 e 2019. Para a PS5, esse valor deverá ser ainda superior.

Em termos de utilização, a Microsoft calcula que uma consola moderna emite cerca de 72 kg de CO₂ por ano. Com 90 milhões de consolas de nova geração vendidas até junho de 2024, as emissões anuais de uso totalizam cerca de 6,48 milhões de toneladas.

No caso dos computadores pessoais, a pegada média anual é de 149 kg de CO₂, incluindo o impacto da produção. Aplicando este valor ao universo global de jogadores em PC (cerca de 1,86 mil milhões), obtém-se uma pegada anual de 277 milhões de toneladas.

Nos Estados Unidos, o consumo energético associado ao gaming foi estimado em 3,9 TWh, o que representa cerca de 2,6 milhões de toneladas adicionais de emissões, considerando também o uso de televisores.

Gaming móvel e consolas portáteis: impacto mais reduzido

O gaming móvel tornou-se uma das formas mais acessíveis de jogar, com sessões médias de 97 minutos por dia. Cada utilizador emite cerca de 20 kg de CO₂ por ano, incluindo o impacto da produção do dispositivo. Multiplicado pelos 2,9 mil milhões de jogadores móveis ativos, este valor representa 58 milhões de toneladas anuais – mais do que a pegada de carbono anual da Grécia.

Já as consolas portáteis, como a Nintendo Switch, apresentam uma pegada mais reduzida: cerca de 13,8 kg de CO₂ por ano. Apesar de sessões ligeiramente mais longas, o processo de fabrico destas consolas tende a ser menos intensivo em carbono. O impacto real pode ser superior quando utilizadas em modo dock, ligadas a televisores.

Formato dos jogos e transmissão de dados

A pegada ambiental dos jogos depende do formato – físico ou digital – e da quantidade de dados transmitidos. Em 2023, cerca de 30% das cópias vendidas de títulos como EA Sports FC 24 e Call of Duty: Modern Warfare 3 foram físicas. Produzir e embalar um milhão de discos representa cerca de 312 toneladas de CO₂. Em contraste, o download de um milhão de cópias digitais de 70 GB emite apenas 3 toneladas.

Jogos com funcionalidades online exigem ligação constante à Internet, mas não são particularmente exigentes em termos de dados. Jogar Fortnite durante mil horas consome cerca de 97,7 GB, emitindo 3,91 toneladas de CO₂. Aplicado a um milhão de jogadores, este valor sobe para 3,91 milhões de toneladas.

Streaming e influenciadores: uma nova dimensão do impacto

Além de jogar, muitos utilizadores acompanham vídeos de gameplay e comentários em plataformas como o YouTube. Influenciadores ou jogadores profissionais têm milhões de seguidores, especialmente entre os millennials e a geração Z.

Ver vídeos de gaming durante meia hora por dia representa cerca de 584 kg de CO₂ por ano por utilizador. A Greenly estima que uma hora de streaming no YouTube emite cerca de 3,2 kg de CO₂.

Como podes contribuir para reduzir o impacto

A indústria pode adotar medidas como programas de retoma de equipamentos, já implementados por empresas como Apple e Samsung, e realizar avaliações completas do ciclo de vida dos produtos. Estúdios de videojogos podem também otimizar os menus e salas de espera para reduzir o consumo energético – como já acontece com Fortnite, que permite poupar até 73 GWh por ano.

Do teu lado, podes optar por versões digitais dos jogos para reduzir o lixo eletrónico, evitar acessórios desnecessários e estar atento ao tempo de utilização dos equipamentos.

Para Alexis Normand, CEO da Greenly, o crescimento do gaming é um exemplo de criatividade e cooperação:

“Acreditamos que esse mesmo espírito pode ser canalizado para proteger o ambiente. Jogar não tem de ignorar o mundo real – pode ajudar a cuidar dele.”