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Lançado em novembro de 2018, o novo Battlefield V marca o regresso da saga à temática da Segunda Guerra Mundial, um dos eventos mais marcantes da história recente da humanidade, e por isso, provavelmente, um dos mais adaptados à literatura, cinema e outras formas de arte. Os videojogos não foram exceção, e desde cedo tentaram retratar o ambiente dos campos de batalha do maior conflito militar da história. A saga Battlefield deve as suas origens a uma dessas adaptações, quando em 2002 a Electronic Arts (EA) e os estúdios da Digital Illusions (EA DICE), lançaram Battlefield 1942 para Windows e Mac.

O primeiro Battlefield diferenciava-se da concorrência ao permitir escolher uma de cinco classes de infantaria – Scout, Assault, Anti-Tank, Medic e Engineer – além de permitir controlar uma grande variedade de veículos característicos da Segunda Guerra Mundial, como navios, tanques e aviões.

Battlefield V

Desde então a saga tem mudado de temática com alguma frequência. Battlefield 2142, lançado em 2006, apresentava um estilo de guerra altamente futurista, com mechs e armaduras corporais avançadas, enquanto outros títulos, como Battlefield 2 e Battlefield 3, lançados em 2005 e 2011, apresentavam elementos de guerra contemporânea.

Em 2016, os estúdios da DICE, decidiram que era altura de regressar ao passado, e apresentaram Battlefield 1, focado na Primeira Guerra Mundial e fortemente inspirado em acontecimentos históricos. A mudança temática foi muito bem-recebida pela comunidade de jogadores, e aliada a um excelente modo de campanha e visuais de topo, fizeram de Battlefield 1 um sucesso comercial com mais de 15 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Apesar da mudança temporal para o passado, o jogo manteve algumas das principais características da saga, como o sistema de classes e a possibilidade de conduzir veículos.

Battlefield V

BATTLEFIELD V

Depois do excelente lançamento de Battlefield 1, que serviu como um renascimento da franquia, a Electronic Arts regressa agora, dois anos depois, com Battlefield V, uma espécie de sequela, que pretende demonstrar quem é o rei dos FPS, especialmente quando se trata do tema da Segunda Guerra Mundial.

A CAMPANHA

Mais uma vez, o modo de campanha a solo é um dos grandes focos nos jogos da DICE, e Battlefield V é exemplo disso, com uma história que nos transporta ao ambiente de tensão e conflito da Segunda Guerra Mundial, com uma capacidade de imersão espantosa, que nos faz viver todos os acontecimentos na primeira pessoa. Esta aposta no modo campanha vem contrariar a opção tomada por um dos seus principais concorrentes, o Call of Duty: Black Ops IIII, que decidiu não apresentar este modo no seu jogo.

A campanha de Battlefield V está organizada de forma semelhante à do jogo anterior, com pequenas “Histórias de Guerra” que podemos viver na primeira pessoa. Embora nem todas estejam disponíveis desde o dia de lançamento, os três primeiros capítulos apresentam momentos fortes que podem ser vividos em várias localizações do mundo, como a Noruega, França e o continente africano. A banda sonora é um dos elementos chave de toda a experiência, desde as marcantes músicas de fundo, até ao som das explosões e disparos das armas, tudo encaixa para uma sensação quase cinematográfica, que é ampliada por visuais impressionantes e uma jogabilidade muito intuitiva.

Segundo a equipa responsável pelo desenvolvimento de Battlefield V, as novas histórias têm como objetivo mostrar um lado da guerra mais desconhecido, longe dos típicos heróis dos livros de história e campos de batalha mais famosos, como o desembarque da Normandia. Embora não seja um documentário, Battlefield V faz um bom trabalho a representar o armamento utilizado na época e a introduzir-nos ao ambiente vivido, principalmente durante as fantásticas cenas de abertura, ou prologue, onde tivemos a nossa primeira experiência de jogo.

Battlefield V
Battlefield V. Imagem: DR

Um dos detalhes que nos chamou imediatamente à atenção neste prologue, foi a participação na história de Neville Chamberlain, antigo primeiro-ministro inglês, e o porta-voz que anunciou, no dia 3 de setembro de 1939, a entrada do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha Nazi. Este momento, que dura cerca de 15 minutos, mergulha-nos imediatamente nos vários conflitos e confere um grande realismo dramático. É principalmente impressionante a variedade de ambientes apresentados, desde desertos, zonas geladas, pântanos e até cenários de batalha aérea a grande altitude. Além de servir como um pequeno tutorial à jogabilidade deste novo Battlefield V, as cenas de abertura servem também como aperitivo para as várias aventuras que nos esperam mais à frente no modo de campanha.

Não vamos desvendar nenhuma das histórias, mas podemos garantir que apresentam narrativas muito bem estruturadas. Toda a campanha foi construída de modo a fazer o jogador refletir sobre alguns momentos-chave da guerra, e neste ponto não temos criticas a fazer. A longevidade é talvez um dos únicos defeitos, uma vez que as cerca de 5 horas de jogo divididas pelos 4 primeiros episódios, deixam-nos com água na boca. No entanto, já é previsto o lançamento do 5º episódio, The Last Tiger, que nos coloca no papel de um comandante alemão de veículos blindados, acrescentando aproximadamente mais 2 horas ao modo campanha. A esta altura, ainda não podemos confirmar que venham a ser lançados mais episódios, mas achamos provável que tal venha a acontecer. As boas notícias é que qualquer expansão será totalmente grátis, mas sobre isto falaremos mais à frente!

Battlefield V
Battlefield V. Imagem: DR

Se as histórias estão bem conseguidas, o mesmo não se pode dizer de alguns elementos técnicos do jogo. A Inteligência Artificial (IA) por exemplo, é um dos pontos fracos do modo campanha de Battlefield V. Os soldados controlados pelo jogo são um pouco idiotas nas dificuldades iniciais, enquanto que em níveis mais exigentes apresentam por vezes uma visão sobre-humana, capazes de identificar inimigos deitados no meio de ervas altas a vários metros de distância, ou atingir-nos com um headshot instantâneo vindo do outro lado do mapa.

Battlefield V
Battlefield V. Imagem: DR

O modo co-op Combined Arms está de volta, e coloca em prática uma pequena dose de cooperação, sem que isso se torne demasiado incomodo no jogo, mesmo para quem prefere jogar sozinho. Infelizmente, este modo cooperativo só estará disponível em 2019, algo que nos deixou um pouco dececionados.

MULTIPLAYER

Entre os modos multiplayer, encontramos alguns dos clássicos como o modo Domination e Conquest, que permitem batalhas em larga escala, variando de 32 a 64 jogadores no mesmo mapa. O novo modo Grand Operations permite que os jogadores compitam em batalhas que duram vários “dias” ou rondas, e envolvem vários mapas para diversificar a experiência. Como em qualquer grande batalha, o resultado do dia anterior tem repercussões no dia seguinte, e caso tudo termine empatado, é ainda realizado um confronto final.

Grand Operations é uma das melhores surpresas deste novo Battlefield V. O facto de misturar vários modos de jogo numa única partida, torna tudo muito mais interessante e motiva os jogadores a lutar pela vitória final. A EA ainda vai lançar pelo menos mais uma missão para este modo, e se mantiver a qualidade do que pudemos experimentar, tornará esta experiência ainda mais diversificada.

O menu principal destaca alguns dos modos de jogo, mas é possível procurar uma partida de acordo com critérios específicos. O jogador pode filtrar os resultados da procura de acordo com o modo de jogo desejado, mapas, regiões, localização e número de jogadores presentes. Além disso, é também possível entrar num servidor específico inserindo o seu nome no espaço dedicado.

CLASSES

Existem no total 4 classes – Assault, Medic, Support e Recon – num sistema que foi completamente remodelado comparativamente com as edições anteriores, todas elas personalizáveis até certo ponto. No menu The Company é possível mudar o equipamento da classe, a sua aparência e identidade. A principal vantagem desta secção é que o jogador é completamente livre para construir a sua personagem, entre homem e mulher, uma novidade nesta edição.

Battlefield V
Battlefield V. Imagem: EA

De forma geral o nome das classes reflete a sua utilização no campo de batalha e o armamento disponível:

Assault é focado principalmente no ataque, com armamento anti veículo e espingardas semiautomáticas. Ao contrario das restantes classes, os Assault conseguem recolher mais munição de inimigos abatidos, algo muito útil, uma vez que o número inicial de balas foi reduzido em todas as classes.

Medic continua a ser um elemento imprescindível nesta edição. Mesmo sendo agora possível a qualquer jogador reviver elementos do seu esquadrão, apenas a classe médica pode reviver toda a equipa. Além disso, os médicos podem dar bolsas médicas aos seus camaradas, que podem ser armazenadas para uso posterior, permitindo alguma regeneração de vida.

Support mantém as principais características de outras edições da saga, tendo a capacidade de reabastecer os companheiros de equipa com munição e são capazes de utilizar dispositivos explosivos. Além disso, o seu papel foi expandido para permitir a construção de fortificações ofensivas e tempos de construção mais rápidos em comparação com outras classes.

Recon é o soldado de reconhecimento por excelência, com opções de ataque de médio ou longo alcance, com espingardas de cadência de disparo mais lenta ou semiautomáticas de grande impacto. São ainda dotados de uma habilidade que marca os inimigos que estão a defrontar, para mais fácil identificação.

Existem mais razões para jogar Battlefield V em modo multiplayer, e uma delas nem é nova nesta edição. Sempre que morremos no jogo, podemos renascer junto de um colega de equipa, evitando assim atravessar novamente todo o mapa para atingir uma posição mais dianteira. Outra é a possibilidade de curar os membros do grupo, mesmo sem utilizar a classe médica. Obviamente a animação de cura é bastante mais lenta do que a utilizada com classe correta para a função, mas esta possibilidade faz aumentar a cooperação em equipa.

Curar companheiros, atingir objetivos e outras ações ainda não reveladas, conferem pontos para a equipa, que podem ser utilizados pelos líderes de esquadrão para comprar diferentes itens de bónus, como rockets, lança-chamas, armas antiaéreas ou carros blindados, que serão entregues no mapa.

Battlefield V
Battlefield V. Imagem: DR

Foram ainda acrescentadas ao jogo algumas melhorias mais subtis. Uma delas foi a meteorologia dinâmica que faz alterar o estado do tempo durante as partidas, algumas vezes com efeito direto no terreno, como a queda de neve, algo muito importante em modos como o Grand Operations. Destacam-se também o maior nível de destruição nas estruturas, e as novas fortificações como arame farpado e trincheiras.

FIRESTORM

O novo modo Firestorm de Battlefield V só está previsto para março de 2019, e tem vindo a ser produzido de forma autónoma pela Criterion Games. Este modo do género Battle Royale, vai contar com o maior mapa da saga até ao momento, e irá permitir até 64 jogadores divididos em 16 esquadrões. Sendo um estilo de jogo tão popular nos dias que correm, suspeitamos que grande parte do sucesso deste novo Battlefield possa estar dependente das novidades de Firestorm.

Battlefield V
Battlefield V. Imagem: DR

E AS LOOTBOXES?

Outra das novidades deste novo Battlefield V, e em sentido inverso à tendência atual nos videojogos, é a exclusão completa de lootboxes, micro-transações e DLCs/Season Pass. Apesar de existirem skins para algum armamento, estas serão desbloqueadas com pontos ganhos no jogo. A EA foi muito clara na sua posição atual. O jogo vai receber atualizações gratuitas ao longo das próximas semanas e meses, com um calendário bastante preciso, mas sem qualquer custo adicional.

Uma das primeiras atualizações que Battlefield V irá receber, está prevista para dezembro deste ano, com a introdução de Tides of War, uma atualização que vai acrescentar mais missões de campanha, como Overture, o primeiro capitulo da nova atualização focado na Bélgica, onde os tanques irão ter um importante papel. Em 2019 teremos o modo Firestorm de forma gratuita, e provavelmente mais algumas surpresas que ainda poderão estar para vir no futuro.

VEREDITO

O novo Battlefield V insere-nos diretamente no centro do conflito da Segunda Grande Guerra Mundial, acompanhado dos melhores visuais de sempre na saga, e de uma banda sonora que funciona como uma cereja no topo do bolo. O modo de campanha apresenta narrativas bem escritas e diversificadas, com um tom sério ao nível do conflito que tenta retratar, pecando apenas por ser curto e apresentar algumas falhas na IA. Esperamos que estas desvantagens sejam corrigidas brevemente, e a previsão de novas atualizações só nos deixa otimistas.

O modo multiplayer sofreu algumas alterações importantes que destacam alguns dos pontos mais característicos da saga, como o tamanho dos mapas, o fator de planeamento e o trabalho em equipa. A nova estrutura de classes exige uma ainda maior cooperação entre jogadores, ao mesmo tempo que valoriza qualquer classe presente no mapa.

Esta pode vir a ser a mais completa edição de Battlefield de sempre, uma vez que ainda vai receber alguns modos de jogo adicionais (incluindo co-op), novos mapas, uma nova missão para Grand Operations e o modo Battle Royale Firestorm. Com tantos elementos em falta, sentimos que apenas pudemos jogar uma parte de tudo o que Battlefield V promete. Neste momento, parece-nos um jogo incompleto, que foi lançado cedo demais.

Battlefield V destaca-se principalmente pelo excelente modo de campanha que apresenta e pelas inovações que introduz com o novo modo Grand Operations. Teremos de esperar mais alguns meses até ser possível analisar todos os modos que faltam integrar neste jogo, uma demora que infelizmente não podemos ignorar na nossa avaliação. Nos modos que já apresenta, Battlefield V é quase irrepreensível e uma verdadeira experiência de simulação de guerra.

Esta análise foi baseada na versão do jogo para Windows PC. Uma cópia foi gentilmente cedida pela Electronic Arts Portugal.